quinta-feira, 9 de agosto de 2007


On a life boat sailing' home
With our drunken hearts and our tired bones
Well I just take one last look around
Yeah an' every place feels like a familiar town
And now we're… Free

Free – Jack Johnson

- Ian! – ouvi minha mãe berrar – Quantas vezes tenho que pedir para que você mantenha esse quarto organizado?? Parece que um bicho dorme nele, não um bruxo!
- Mas mãe, quem dorme nele sou eu, que diferença faz? – questionei irritado
- Faz diferença enquanto morar aqui!

Lancei um olhar frio a ela e desci as escadas arrastando a mão na parede e tirando todos os quadros do lugar. Se mamãe se irritava com alguma coisa, era com seus quadros tortos. Joguei-me no sofá e ia fechar os olhos para dormir quando senti algo macio pousar na minha cabeça. Héstia estava parada me olhando com a cabeça inclinada e tinha uma carta no bico. Reconheci de imediato como sendo uma carta de Beauxbatons pelo brasão, mas não era o único envelope que ela trazia. Anexado ao da escola, tinha um envelope branco com o símbolo do St. Napoleon. Rasguei primeiro o da escola, minhas mãos tremendo. Não queria abrir o do hospital ainda. Quase rasguei o papel em duas partes de tão nervoso que estava.

- MÃE! MÃE! – berrei pulando no sofá – MÃÃÃE!
- O que aconteceu, garoto? – mamãe desceu as escadas correndo, acenando a varinha e consertando os quadros que desarrumei – Sai de cima do meu sofá!
- Mãe! – sacudi o papel quase na cara dela – Consegui um Outstanding em TODAS as matérias!
- Ian, que coisa maravilhosa! – mamãe me puxou para o chão e me abraçou, quase me sufocando – Eu sabia que você conseguiria as notas que precisava!
- Mãe, pela primeira vez não me incomodo por você falar uma mentira só pra puxar meu saco – disse ainda sorrindo olhando para o papel com as notas dos N.I.E.M.s
- Ora não seja bobo, não é uma mentira, eu acreditava em você, sim senhor!
- Ta bom mãe... – olhei para o outro envelope em cima do sofá e peguei, entregando a ela – Agora abra você o outro. É a carta do hospital, não quero ler!
- Deixe de bobagens, Ian, abra isso! – ela me devolveu a carta, mas não peguei – Ah está bem, mas que coisa...

Ela abriu o envelope com cuidado para não rasgar nenhum pedaço, uma mania muito irritante que ela tinha, e desdobrou a carta, começando a ler. Observava os olhos dela correrem do inicio ao fim do pedaço de papel, e quando pareceu chegar a ultima linha, me encarou séria. Sentia meus joelhos cederem aos poucos.

- Pode aproveitar seus últimos dias de férias – ela abriu um largo sorriso – Você conseguiu o estágio, começa sua residência no dia 1º de Setembro!

Não sei se pulei, gritei ou chorei primeiro. Estava tão feliz que tinha esquecido por completo que minutos antes estava discutindo com minha mãe. Ela sorria me vendo pular pela sala igual a um macaco quando ouvi um estampido alto vindo do meu quarto, e segundos depois Bernard descia as escadas desabalado.

- O que estava fazendo lá em cima? – perguntei espantado
- Aparatei no seu quarto, mas você não estava lá! – ele quase atropelava as palavras – Eu consegui o estágio no Departamento de Cooperação Internacional em Magia!!
- Eu também consegui o estágio no St. Napoleon! – quase gritei também
- Bernard, que noticia maravilhosa também! – mamãe abraçou Bernard sorridente – Estou muito feliz que vocês dois tenham conseguido o que queriam! De fato, vou agora mesmo despachar uma coruja a Gerard e meu pai, eles precisam saber das novidades! - mamãe subiu as escadas apressada para escrever a carta do escritório
- Isso requer uma comemoração, não? – ele falou me olhando animado
- Certamente, caro amigo! – apanhei as cartas em cima da mesa e enfiei-as no bolso - Vamos agora mesmo para Paris!

Com um estampido aparatamos dentro do café do Champs-Élysées que dava acesso ao mercado bruxo onde costumávamos comprar nossos materiais de escola. Bernard puxou um espelho de duas vias do bolso e eu puxei um também, e logo estávamos chamando nossos amigos através deles. Não demorou mais do que 10 minutos até que a gangue estivesse outra vez reunida. E todos pareciam ter novidades interessantes. Marie foi a primeira a falar, pois aparatou no café e se atirou em cima de mim, me beijando animada.

- Fui chamada para trabalhar no Louvre! – falou quando me soltou – E Maddie também! – Mad confirmou com a cabeça, sorrindo
- E eu, meus caros – Dominique abraçou Bernard pelo pescoço – Acabo de receber uma carta do Lê Prophet. Eles adoraram meu portfólio e me ofereceram uma vaga para trabalhar na sessão de esportes!
- Que demais, cara! – Samuel falou empolgado – Mas não vá falar mal de mim no jornal, hein? – e todos riram
- Que demais mesmo, Nique! – Manu parou ao lado dele radiante – Também enviei meu portfólio para eles, e me chamaram para trabalhar na coluna de arte e música. Vamos trabalhar juntos! – ela abraçou Dominique mais animada ainda
- Tome conta dela por mim, Nique – Viera fez uma cara solene e rimos – Não vou poder estar por perto o dia todo, pois como sabem, o trabalho no Escritório Internacional de Direito em Magia ocupará boa parte do meu dia...
- Repararam que só o Olivier fez essa pompa toda pra contar que conseguiu o estágio? – Bernard falou brincando – Mas vamos trabalhar em salas vizinhas meu amigo mauricinho. Estou no mesmo departamento que você!
- Que maravilha! – Viera e Bernard se abraçaram – E eu achando que não íamos mais nos ver com a mesma freqüência dos últimos sete anos... Doce ilusão!
- Só Samuel vai para longe – falei batendo nas costas dele – Mas é por uma boa causa, vai virar um jogador de quadribol famoso e descolar ingressos de graça para os amigos! Por esse motivo nobre, a gente deixa você partir, Samuca!
- Isso tudo, claro, se Dominique for legal comigo e não falar que jogo mal quando for assistir meus jogos para fazer as reportagens! – Samuel falou olhando sério para Dominique, mas acabou rindo depois
- Jamais faria isso com um amigo, ainda mais se ele vai nos fornecer privilégios... Não que eu vá precisar deles, afinal, vou ser um jornalista credenciado, mas os outros pobres mortais precisarão! – Dominique respondeu fazendo a mesma cara solene de Viera
- Vamos ficar aqui só de papo, ou vamos comemorar a nova fase com alguns drinks de whisky de fogo? –Marie apontou as cadeiras vazias no café
- Isso mesmo, eu vim aqui para comemorar, não ficar em pé! – Mad reclamou e sentamos

Pedimos ao garçom que trouxesse um copo para cada um e passamos o resto da tarde sentados ali, bebendo, comendo e conversando. Cada um agora tinha uma perspectiva de vida diferente. Não era mais como em Beauxbatons, onde todos tínhamos que alcançar um único objetivo. E perspectiva nova pede vida nova. Marselha ficava longe demais de Paris, e mesmo podendo aparatar, Bernard e eu queríamos morar sozinhos. E como Dominique também ansiava por sair de casa, íamos dividir um apartamento os três e combinamos de começar a procurar no dia seguinte mesmo. Marie e Mad se prontificaram a nos ajudar e ficamos gratos, pois dificilmente faríamos a escolha certa.

E ali naquela mesa, entre um brinde e outro, e entre muitas besteiras ditas graças ao efeito do álcool, começava a vida nova que cada um seguiria dali para frente. E o que ficava para trás nada mais eram que lembranças. Boas lembranças, no entanto...

ººº

Texto #1 do Ian nesse novo espaço. Vamos ver com que frequência ele aparece por aqui. Mas prometo tentar fazer com que seja um número significativo, afinal, a vida pós-Beauxbatons promete ser bastante agitada!