domingo, 23 de setembro de 2007


Memórias de Samuel Berbenott

SB: Então, o que você achou da Anne? – perguntei para mamãe enquanto ela me ajudava a arrumar a mala. Ela sorriu.
- Se está querendo algum tipo de aprovação, você tem. Ela é bonita, inteligente, educada... Exatamente o tipo de pessoa que sonhei para você. E quem sabe ela consegue enfiar um pouco de juízo nessa sua cabeça, não é?
SB: Já está conseguindo... – ri. Mamãe me encarou rindo também.
- Inacreditável o tempo passar tão rápido. Ontem mesmo estava arrumando sua mala para ir para Beauxbatons a primeira vez. Agora você está indo morar no País de Gales, trabalhar, com namorada e pinta de responsável. – ela fechou a mala e me entregou. – Se cuida.
SB: Vou me cuidar mãe.
- Eu sei que vai. Mas falar mais uma vez nunca é ruim...

Descemos juntos. Anne e papai já nos esperavam com malas prontas na sala. Anne estava passando alguns dias conosco enquanto seus pais haviam ido visitar Thierry, e papai tirara seus primeiros dias de folga depois de muitos anos de trabalho para me acompanhar até o País de Gales. A expectativa de sair de casa ou de Paris ainda me atormentava um pouco, mas em pensar que estava indo me apresentar em um time de quadribol profissional, todas as dúvidas se acabavam e eu me sentia animado com essa idéia...

°°°

Quando chegamos aos alojamentos e estádio do Caerphilly Catapults minha excitação só aumentou. O lugar era imenso. Logo nos portões, estava uma placa em bronze contando da história da fundação em 1402 e as maiores conquistas do time.
Fomos até a administração e um homem encorpado, aparentando ter 30 anos nos recebeu formalmente.

- Imagino que você seja Samuel Berbenott?
SB: Eu mesmo. – estendi a mão e ele apertou. – Muito prazer.
- Igualmente. Sentem-se. – nos sentamos de frente a ele e ele continuou formal. - Meu nome é Joseph Godoy, treinador do time. Então, animado?
SB: Bastante. – disse sincero e ele me avaliou.
- Ótimo, pois nossos treinos serão pesados. Não admito jogadas amadoras, brincadeiras e má vontade. Até por que, quadribol aqui é sua profissão, e tem que ser levado a sério. Teremos treinos todos os dias, das 18:00 às 20:00 horas. Durante o restante do dia, a maioria dos jogadores estudam ou trabalham, mas é importante vir aos treinos bem disposto. Alguma pergunta?
SB: Não. – disse mecanicamente. O homem parecia um robô listando tudo aquilo. Estava fazendo força para compreender cada frase, mas ele recomeçou a falar...
- Pretende morar em nosso alojamento?
- Não. Vamos procurar um apartamento para ele. – papai respondeu por mim e Joseph virou seus olhos para ele e de volta para mim.
- Certo. Aqui está a chave do seu armário no vestiário, seu uniforme e um mapa do nosso alojamento e do nosso campo. Os treinos começam dia 1° de setembro e eu espero você aqui. – Ele me entregou as coisas e se levantou, nos forçando a levantar. Saímos alguns minutos depois e nenhum de nós conseguiu dizer nada.

°°°

O apartamento era razoavelmente grande para mim, mas eu gostei. Era em um bairro tranqüilo e tradicional e ficava perto do estádio. Após arrumarmos toda a burocracia do local, voltamos para Paris para aproveitarmos as últimas semanas de férias. Anne já estava ficando menos intimidada pela minha família com o passar dos dias, o que eu achava ótimo.

AR: Isso não é justo. Não temos nem dois meses de namoro e você já me lança de cara com a sua família?!
SB: Quanto mais cedo você se acostumar, melhor. Que parte do ‘quero me casar com você’ você ainda não entendeu? – ela sorriu e me abraçou.
AR: A parte que você não cita o tempo que isso ainda vai levar até acontecer... Casamento é coisa séria, Samuel.
SB: Bom, leve o tempo que for. Um dia você se casa comigo, e eu estou afirmando isso.

Ela se afastou de mim e se sentou na cama me encarando séria. Me sentei ao seu lado.

SB: Não casa? – perguntei.
AR: Aquele seu treinador... Não gostei dele. – ela mudou de assunto e olhou meu uniforme de listras verdes e vermelhas no armário.
SB: Por que ele é todo sério?
AR: Ele me pareceu estressado. Não dê motivos pra ele se irritar com você.
SB: Se eu sobrevivi à Milenna Dartagnam, ele não pode ser tão difícil. Não precisa se preocupar com isso, ok? Estou indo fazer o que mais gosto de fazer, não tenho por que implicar com meu treinador! E para de mudar de assunto, Anne Renault. Um dia nós vamos nos casar, ou não?
AR: Se eu não me enjoar de você, quem sabe... – ela tornou a virar para mim e sorriu convencida. Levantei a sobrancelha para ela.
SB: Ouse se enjoar de mim, ouse. Você ainda não me viu nervoso.
AR: Huum, agora eu estou com medo. Acho que quero pagar pra ver então!

Ri e a puxei lhe dando um beijo.

°°°

Na última semana de férias, eu já havia feito minha mudança para o apartamento no País de Gales e voltara a Paris para as festas de despedida que tanto minha mãe, quanto os malucos dos meus amigos prepararam para mim (embora eu afirmasse que Paris seria sempre o meu lugar predileto e que voltaria praticamente todos os dias para lá, eles na verdade só queriam um motivo para mais uma festa).
Todos agora se preparavam para começarem os estágios e trabalhos ou para voltarem à Beauxbatons.

No dia 1° de setembro, fui até o porto me despedir de Anne e senti uma sensação estranha ao ver o barco de Beauxbatons desaparecer pela primeira vez sem que eu também tivesse embarcado. Então, fui com Bernard até o apartamento onde ele, Ian e Dominique estavam morando para me despedir uma última vez, e voltei para casa. Mamãe parecia mais aflita do que qualquer um. Pierre e Samara ao contrário, se mostravam animados com a idéia de futuros jogos de campeonatos europeus aos quais eu estivesse participando.
Quando terminava de arrumar as últimas coisas, papai foi até lá e parecia ao mesmo tempo, ansioso e tenso.

- Tudo bem? Está precisando de ajuda?
SB: Não. Só preciso terminar de juntar essas coisas que ficaram... Veio se despedir?
- Também. Mas antes, tenho duas novidades que acho que você vai gostar.

Parei de tirar os pôsteres de times das paredes e o encarei. O que ele teria para me dizer naquele momento?

SB: O que?
- O Departamento de Esportes Mágicos do Ministério está precisando de mais alguém para ajudar, ainda mais nesse começo de ano letivo com as Olimpíadas e eu pensei que talvez você gostaria...
SB: De trabalhar no Ministério? Está falando sério???
- Creio que sim. Já me certifiquei dos horários. Você terá que comparecer ao Ministério somente durante as manhãs, então dá bastante tempo para ir e vir, não dá?

Mas não consegui responder. Uma onda de animação cresceu em mim. A idéia de trabalhar no Ministério da Magia, em Paris, e na seção de esportes era muito melhor do que eu poderia sonhar.

SB: O que eu preciso fazer? Tenho que ir lá antes ou alguma coisa assim?
- Não. Você pode ir lá, mas para começar a trabalhar. A partir de amanhã.
SB: Pode contar comigo!
- Boa sorte. Terá muito trabalho a fazer...
SB: E a segunda novidade?
- Vem até a sala comigo.

Se eu pensei que a primeira novidade já era um tanto quanto animada, a segunda foi muito mais, pois Patrick estava na sala, mas não estava com jeito de que fosse se despedir, até por que ele havia ido a todas as festas. Ele tinha malas ao lado dele e sorria.

PB: Então. Vamos logo para casa?
SB: Do que você está falando? Por que está com essas malas?
PB: Até agora você não entendeu??? Vou morar com você, claro. Achou que ia se livrar de mim tão fácil?
SB: O QUE?
PB: Isso mesmo. Já garanti meu quarto, e não abro mão. País de Gales, aí vou eu!

Encarei ele atônito por pelo menos cinco minutos. Ele estava falando sério?

SB: Posso saber o que vai fazer no País de Gales?
PB: Além de te fazer companhia? Nada. Mas precisava ir morar longe dos meus pais, então decidi. A não ser que você prefira morar sozinho...
SB: Não, claro que não. Mas não estava esperando...
PB: Virei para Paris todos os dias. Me matriculei em um curso de gastronomia, com direito a chapéu e roupa de chef e tudo o mais. *A professora é uma gata, diga-se de passagem*. - Ele sussurrou a última frase e piscou. A idéia de imaginar Patrick cozinhando era bizarra, e parecia que tudo estava doido, mas depois de me lembrar dele conversando em sereiano com a professora Mariska eu percebi que ele estava falando sério. – Então, não vai dizer nada?
SB: Você é mais maluco do que pensava!
PB: Ótimo. Agora podemos ir?

E foi exatamente assim que a minha vida começou a mudar completamente de rumo. Patrick logo se acomodou no apartamento, eu comecei os treinos que eram realmente muito puxados e assumi meu lugar no Ministério, descobrindo o quanto sentia saudades da minha vida em Beauxbatons, tranqüila e calma...

~*~
HOME, SWEET HOME! ;D