quinta-feira, 27 de dezembro de 2007


23 de Dezembro de 1998, Hospital St. Napoleon

- Jingle Bells, Jingle Bells, acabou o papel. Não faz mal, não faz mal, limpa com jornal! O jornal tá caro, caro para chuchu. E agora o que eu faço pra limpar o meu...
- OI! – Cecile exclamou alarmada e Gabriela riu – Linda música, onde aprendeu?
- Foi o Ian que me ensinou – disse orgulhosa e sorri para Cecile
- Minha pupila, muito bom – dei três tapinhas leves na cabeça dela – É pra cantar no coral da igreja, na hora do seu solo
- Eu sei, não vejo a hora! A professora disse que vou ter uma parte inteirinha só pra mim!
- E vai fazer o maior sucesso com essa música – Cecile riu
- Ele me ensinou outra, quer ouvir? – falou empolgada e nem esperou resposta – Bate o sino pequenino, sino de Belém, vai chamar a...
- Não, está tudo bem, Gabriela! – Cecile interrompeu depressa – Já conheço essa, guarde para a ceia de Natal!
- Bom, já terminamos aqui – conferi mais uma vez se tinha dado todas as poções para a mãe dela – Temos que ir agora
- Ah, mas já? – Gabriela fez uma cara triste e abraçou Cecile – Vou ficar sozinha?
- Sua avó já chegou para lhe buscar, não vai ficar sozinha. Mas temos que atender outros pacientes – estendi a mão para ela bater – Nos vemos depois do natal, certo?

Gabriela exitou um pouco, ainda chateada por estarmos indo embora, mas acabou sorrindo e completando o aperto de mão que havia lhe ensinado. Fechamos a porta do quarto e esbarramos com Laport no corredor, conversando com Dubois. Pareciam não estar se entendendo muito, e Dubois lançou um olhar afetado na nossa direção antes de virar as costas e sumir por uma das portas.

- Estão de folga até dia 26 – Laport falou quando se aproximou. Sorrimos na mesma hora – Dubois não queria liberar os estagiários, mas não há porque mantê-los aqui com tantas pessoas da equipe escaladas para o natal.
- Podemos ir então? – Perguntei esperançoso. Ainda precisava comprar o presente da Marie
- Sim, estão liberados já, aproveitem as ultimas horas de lojas abertas. Mas estão escalados para trabalhar na virada do ano, precisamos do máximo de gente possível
- Tudo bem, não me importo em trabalhar dia 31 – Cecile respondeu de imediato
- Ótimo. Bom natal, aos dois – ele estendeu a mão para nos cumprimentar e descemos depressa até a sala dos funcionários para juntar as coisas e ir embora. Jingle Bells, Jingle Bells, acabou o papel. Não faz mal, não faz mal, limpa com jornal...

ººº

24 de Dezembro de 1998, véspera de natal, casa dos Laforêt

- Sabe o que é isso? – uma garota de cabelos quase brancos de tão loiros falou apontando para o alto
- Sim. – respondi a encarando – Azevinho. A casa está cheia deles.
- Sabe o que diz a regra para duas pessoas debaixo de um azevinho, não é?
- Sei, mas nunca fui de obedecer a regras.
- Que tal começar por essa? – me provocou
- Nah, não vejo motivo para isso – respondi desinteressado e ela saiu batendo pé, bufando para perto de um grupo de garotas de sua idade que riam

Estava na casa dos avôs de Marie, na tradicional festa de natal dos Laforêt. Aquela garota era uma de suas primas, assim como as demais do grupo para onde ela saiu marchando. Notei que elas me analisavam desde que cheguei, e bastou Marie se afastar um minuto para falar com um tio que elas avançaram. Olhei ao redor procurando por ela e vi a salvação sair por uma porta decorada no fundo da sala. Marie veio até mim e me abraçou, apontando para o azevinho e me beijando. As primas dela começaram a rir alto e a loira que me abordou torceu o nariz.

- Victoire veio lhe importunar, não é? – perguntou rindo e confirmei com a cabeça – Não liga, elas provavelmente queriam testar você, saber se era fiel ou algo assim. Típico delas, devem até ter apostado que Victoire não conseguiria o objetivo.
- Claro, como se eu fosse trair você dentro da casa da sua família – olhei torto para elas e pararam de rir – Tenho amor a minha vida.
- Pois é bom que continue tendo esse amor à vida fora daqui – disse em tom de aviso
- Não se preocupe quanto a isso – puxei-a para mais perto de mim e a beijei – Já tenho tudo que preciso
- Vai mesmo trabalhar no ano novo? – perguntou com a voz desanimada
- Sinto muito, mas não tenho opção. Deram folga aos estagiários no natal, pois é mais tranqüilo. Toda a equipe vai estar de plantão dia 31, sempre tem muitos acidentes. Já sabe o que vai fazer?
- Ainda não. Minhas primas me chamaram pra ir a Saint Tropez com elas, mas não sei se devo ir
- E por que não? Vá sim, não quero que passe a virada do ano em casa sem fazer nada. Divirta-se por mim, por favor.
- Todas elas bebem, e não bebem pouco, e ai vão sumir com algum cara por lá e eu vou ficar sozinha!
- Leve a Maddie com você – sugeri – Ela disse que Gabriel vai a um casamento dia 31 e a chamou para ir, mas que não vai porque seu pai faz aniversario dia 30 e vai ter festa.
- Levar a Maddie? Ela vai beber tanto quanto elas!
- Sim, mas não vai sumir com um ‘algum cara’, ela já tem namorado. Mesmo bêbada, vai ficar fazendo companhia a você.
- É, pensando por esse lado... – disse envolvendo os braços em volta do meu pescoço – Vou falar com ela amanhã. Vamos pra Saint Tropez no ano novo!
- Ótimo. Mande lembranças ao mar por mim...

Marie sorriu e me puxou para a mesa, onde as pessoas começavam a se servir da ceia convidativa preparada pelos elfos. Era bom aproveitar bem o natal, pois o ano novo não prometia ser nem um pouco divertido...

ººº

31 de Dezembro de 1998, Hospital St. Napoleon

- Só mais um minuto, Sr. Johnson, e vou terminar seu curativo. Não foi uma idéia muito boa soltar aqueles fogos, não é?
- Não foi idéia minha – o homem se defendeu sem jeito – Meu irmão comprou em uma loja em Londres semana passada. O fio enrolou no meu pé, não tive muito tempo de correr
- Em Londres? – perguntei curioso – Por acaso foi nas Gemialidades Weasley? – ele confirmou com a cabeça e ri – Ah, eles são geniais... Sr. Johnson, está sentindo as espetadas no pé?
- Não... Por que não sinto você furar meu pé?? – falou desesperado
- Calma, isso é normal, seu pé quase explodiu – acalmei-o – Só queria ter certeza para poder-

Interrompi a frase e olhei para o chão. O pé dele estava todo preto por causa da explosão e quando espetei o dedão, ele caiu. Fiquei olhando horrorizado para o buraco deixado pelo dedo e abaixei depressa para procurá-lo, mas não conseguia encontrar. Como o dedo sumiu? Acabou de cair!

- Poder o que? – quando viu que sumi debaixo da mesa, o homem soou assustado – O que foi? O que aconteceu? Não estou vendo!
- Fique aí, Sr. Johnson – falei com a voz abafada por estar debaixo da cama quando localizei o dedo – Volto em um instante! Não se mexa ou os curativos irão cair!

Levantei do chão enfiando o dedão no bolso do jaleco e sai correndo pelos corredores. Cecile estava preenchendo a ficha de um paciente e a puxei pelo braço depressa, arrastando até um canto vazio.

- O que houve? – disse puxando o braço de volta – Quem morreu?
- O dedo caiu!
- Que dedo?
- Do Sr. Johnson!
- Ok, Ian, primeiro: calma. Segundo: quem é Sr. Johnson?
- Sr. Johnson é o homem que chegou aqui por causa do acidente com os fogos! Eu fui espetar o dedo dele e acho que pus força sem perceber, ai caiu!
- Certo, não há motivo para pânico. Isso acontece, não é o fim do mundo – Cecile falava calma, pensando depressa – O que temos que fazer é costurar o dedo de volta, simples.
- Costurar? – olhei para ela incrédulo – Isso é um hospital bruxo, não costuramos coisas aqui! Prefiro contar ao Laport o que aconteceu.
- Laport está em outro setor. O responsável hoje é o Dubois.
- Vamos costurar como? – respondi depressa e ela riu
- Leve ele para a sala vazia do final do corredor e deixe o resto comigo. Encontro você lá em cinco minutos

Assenti com a cabeça e corri de volta até a cama onde ele estava, destravei a rodinha e sai empurrando ele correndo pelos corredores, ignorando as perguntas sobre o que estava acontecendo. Assim que estacionei a cama na sala vazia, tirei um frasco de poção sonífera do armário e o fiz beber. Era melhor que ele não presenciar a operação improvisada. Cecile entrou logo depois que ele apagou com o bolso estufado e selei a porta com um feitiço.

- Onde conseguiu isso?
- Um dos estagiários mais velhos queria experimentar medicina trouxa e tinha guardado
- Sabe fazer isso? – perguntei preocupado – Quero dizer, ele não vai acordar com o dedo ao contrario, não é?
- Relaxe. Minha avó me ensinou a costurar. Sei que não é uma cortina, mas não é tão diferente assim. Só é um pouco nojento. Se afaste, não quero que me desconcentre.

Dei dois passos para trás e deixei que ela trabalhasse em paz. Observei calado Cecile cruzar uma agulha torta no dedo dele de um lado para o outro e minutos depois ele estava encaixado no pé, como se nem tivesse caído. A única coisa que deixava claro que algo havia acontecido ali era a linha preta ligando o dedo e o buraco. Enquanto destravava a cama para removê-lo de volta a ala onde estava, uma caixinha caiu do bolso dele. Apanhei do chão e vi que era um dos fogos das Gemialidades Weasley.

- Ei Cecile, olhe! – falei animado mostrando a caixa a ela – Quer ver uma queima de fogos na virada do ano?
- Faltam 5 minutos para a meia noite, alguns curandeiros estão no terraço com champagne... – respondeu já sorrindo e consultando o relógio
- Então só falta um show pirotécnico pra festa ficar completa!

Empurramos a cama do Sr. Johnson às pressas de volta para ala e subimos de elevador até o último nível. Faltavam apenas alguns segundos para a meia noite quando alcançamos os demais e logo empurraram taças em nossas mãos. Subi no parapeito do terraço e acendi os fogos quando a contagem regressiva chegou ao fim e luzes coloridas explodiram no céu de Paris, ao som dos gritos de vivas e desejos de feliz ano novo dos curandeiros e estagiários que agora faziam parte do meu dia-a-dia. Não era o tipo de comemoração de ano novo que teria planejado, mas foi boa assim mesmo. E esperava ter outras assim por muitos anos aqui nesse mesmo terraço velho...
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007


(¯`·._.· [Memórias de Samuel Berbenott - Olimpíadas] ·._.·´¯)

A palestra para os voluntários havia terminado há poucos minutos. Me afastei dos meus amigos para ir até a tenda de canoagem pegar meu crachá e alguns outros voluntários já estavam por ali.

‘Por favor, essa fila é para a de canoagem?’ perguntei para uma mulher que estava logo na minha frente da fila, e ela se virou. Era morena, com destacáveis olhos verdes e curvas. Linda. E muito, muito familiar. Nos encaramos uns segundos, incrédulos, e rimos. ‘Letícia???’

‘Samuel! O que você está fazendo aqui?’ ela perguntou tão surpresa quanto eu estava.

‘Sou voluntário, na canoagem. Não vá me dizer que você também?!’

‘Exatamente! Entrei de férias do time de quadribol, antes de começarmos os preparatórios para a Copa Mundial, e achei que seria legal ser voluntária aqui... E você, o que anda fazendo?’

Pegamos nossos crachás e saímos andando juntos até os jardins congelados do castelo. Contei a ela que tinha me formado, estava trabalhando no Departamento de Esportes Mágicos do Ministério da Magia Francês e jogando no Caerphilly Catapults. Ela me contou dos treinos no Time Nacional do México e da vitória no Torneio Americano de Quadribol.

‘Tem uma coisa que quero te devolver...’ disse puxando de dentro da camisa um cordão com uma aliança dourada.

‘Não quero que me devolva isso, Samuel. Apesar de nosso casamento não ter sido de verdade, quero que fique com essa aliança’ ela esticou o cordão de volta para mim, sorrindo. ‘Eram dos meus avôs, e eu acho que escolhi uma pessoa bastante legal para dividir comigo. Somos bons amigos, e essas alianças são o símbolo disso, certo?’

‘Certo. Vou continuar carregando ela comigo então.’ Sorri e recoloquei o cordão no pescoço. Passamos mais um par de horas conversando sobre todo o tempo em que não nos víamos e ao final do dia eu realmente pensei que as Olimpíadas seriam mais surpreendentes do que eu esperava...

°°°°°

‘Adivinha quem é?’ disse baixo no ouvido de Anne enquanto minhas mãos tapavam seus olhos. Ela riu.

‘O mesmo Samuel de sempre, não é?’ ela tirou minhas mãos dos olhos dela e se virou para me ver. ‘Estava com saudades...’

‘Eu também’ sorri enquanto a envolvia em um abraço apertado e a beijava.

As carruagens de Beauxbatons haviam aterrissado a poucos minutos do lado de fora do frio castelo de Durmstrang, e uma massa de atletas franceses já se misturavam com várias outras nacionalidades, ignorando os gritos da professora de etiqueta, Defossez, para que formassem uma fila única e organizada e se preparassem para a abertura.

Hem hem’ um rouco bem ao meu lado fez com que me desgrudasse de Anne um minuto e virasse para olhar a garota alta que nos encarava com um sorrisinho cínico e as mãos na cintura: Isabel. ‘Não queria interromper, mas estava me perguntando quando o Sr. Berbenott pretendia se soltar dos amassos públicos em vossa namorada para dar um abraço na velha amiga?!’

Olhei de Isa para Anne e rimos nos afastando um pouco.

‘A Isa você pode abraçar, ok? Só a Isa.’ Anne disse sorrindo e piscando para Isa, que retribuiu a piscadela antes de se jogar em cima de mim. A rodei no ar uns segundos.

‘Malandro! Fica famoso e nem dá as caras para visitar mais os amigos, é?’ Isa perguntou em um tom falsamente ofendido enquanto me beliscava na costela. Saltei para longe das mãos dela.

‘Ouch. Isso dói, Isa. Não tive tempo para ir a Beauxbatons ainda, mas agora estamos todos aqui!’

‘Estão todos aqui, sim senhor, Samuel Berbenott. Mas eu sinceramente adoraria que o senhor e as senhoritas McCallister e Renault deixassem de conversinhas paralelas agora.’ Uma voz seca e rígida disse logo atrás de mim. Professora Defossez me encarava parecendo nervosa.

‘Como vai professora Françoise? Elegante como sempre, estou vendo...’ sorri amarelo e puxei sua mão dando um beijo. Ela se livrou rapidamente e olhou ao redor parecendo consternada.

‘Já vi que o senhor não prestava a mínima atenção em minhas aulas. Lamentável.’ ela disse e Anne abafou uma risada. Isa, porém, encarnara o espírito de aluna exemplar das aulas de etiqueta e havia endireitado a postura, olhando Defossez com respeito e cordialidade. ‘Agora, se me faz o favor de voltar para perto dos outros voluntários?! Posso saber o que ainda estão fazendo paradas aqui, Renault e McCallister?’

Anne e Isa me acenaram e se afastaram para a volumosa onda de alunos com uniformes azul-céu, impecavelmente vestidos, que agora se preparavam para entrarem em Durmstrang. Isa tomou a dianteira da fila, ao passo em que Defossez a entregava a bandeira com o grande brasão de Beauxbatons na mão. Senti um aperto no peito de me lembrar dos melhores anos da minha vida, que haviam sido deixados para trás.

°°°°°

Anne, Bel, Isa e Brenda estavam no podium recebendo a medalha de ouro na Canoagem, prova de Caiaque K4. Eu e Letícia as observávamos um pouco distantes, enquanto David as entregava as medalhas e arranjos de flores. Assim que o hino da França acabou, Anne desceu correndo animada e saltou em cima de mim me dando um beijo. A torcida de Beauxbatons também já tinha descido para comemorar mais uma medalha.

‘Ganhamos!’ ela disse se soltando e me mostrando a medalha.

‘Eu vi. Parabéns!’ ri. ‘Anne, quero te apresentar a Letícia’

Tanto Anne, quanto Letícia, me olharam surpresas. Mas eu estava determinado a apresentar as duas.

‘Letícia é uma amiga minha, antiga. E Anne é a minha namorada.’

‘Futura esposa, Samuel. Não ouse querer fugir do compromisso...’ Anne falou brincalhona e Letícia e eu trocamos um olhar significativo. As duas se deram as mãos em cumprimento.

‘Nem pensei nisso’ disse abraçando Anne.

‘Foi um prazer, Anne.’ Letícia sorriu para nós dois. ‘Bom, agora tenho que ir preparar a próxima prova. Nos vemos depois, Samuca.’

Ela se afastou em direção ao lago e a acompanhei com o olhar, até sumir atrás de vários caiaques.

‘Não sei por que, mas estou com a sensação de que tem alguma coisa sobre essa Letícia que você quer me contar, Samuel...’ Anne me olhou desconfiada e abaixei os ombros.

Não adiantaria adiar. Antes que pudesse preparar um discurso indiferente quanto ao caso, relatei a Anne minha viagem ao México em detalhes. A noite de tequila, o casamento na praia, como eu e Letícia havíamos amanhecido na mesma cama e sem nos lembrarmos de nada, e como tínhamos nos divorciado. No final das contas, ela saiu irritada pedindo para que eu não a seguisse pois precisava de um tempo para absorver a idéia de que eu era, na verdade, um legalmente separado.

°°°°°

‘Será que já podemos conversar?’ perguntei alto para Anne, que estava sentada sozinha ao lado da janela, enquanto a festa de despedida das Olimpíadas explodia ao nosso redor, e olhava os jardins escuros de Hogwarts. Ela sacudiu a cabeça sem dizer nada e me sentei ao lado dela. Como não havia mais nada a dizer, esperei que ela tomasse o tempo necessário para que começasse a gritar, brigar e socar a raiva que supostamente estaria sentindo de mim, mas quando ela falou, foi em seu tom de voz natural e calmo.

‘Por que não me contou antes que já tinha sido casado?’

‘Por que isso não fez a mínima diferença na minha vida’ respondi displicente e ela desviou os olhos dos jardins para me encarar.

‘Então você trata um casamento assim? Com toda essa naturalidade?’

Não foi um casamento de verdade!’

‘É claro que foi! O padre, as alianças, o livro do cartório! Vocês acordaram no mesmo quarto, na mesma cama! É claro que foi um casamento de verdade!’

‘Na prática! Mas não representou nada para nenhum de nós dois!’ disse na defensiva. Ela se voltou para a janela novamente. ‘Olha para mim...’ disse sério e ela me olhou. ‘Eu amo você, ok? Letícia é uma boa amiga, e SÓ isso. Já faz muito tempo que tudo aconteceu, eu nem me lembrava mais disso. Eu fui sincero em tudo o que te disse até hoje! Será que podemos simplesmente encarar tudo isso como passado?’

Ela ficou me olhando vacilante um minuto e então se aproximou e me abraçou com força, pousando a cabeça em meu ombro.

‘Podemos. Mas não quero me decepcionar com você, Samuel. Já não basta meus pais mimarem meu irmão idiota! Não você!’

‘Nunca faria nada para te machucar. Tirando, talvez, a goles que acertei na sua cabeça...’ ela riu e me beijou lentamente.

‘Brenda me disse de uns túneis mais escuros, depois que acabam os dormitórios...’ disse baixo no meu ouvido.

‘É? Hum... Quer que eu te leve lá para conhecer?’ Perguntei brincalhão, mas ela sorria de uma maneira diferente. Determinada.

‘Adoraria’

Saí puxando ela entre os estudantes e voluntários que aproveitavam sua última noite de diversão para dançarem e conversarem, e em poucos minutos alcançamos os tais túneis, parando vez ou outra para trocarmos beijos e nos livrarmos de uma peça de roupa ou assuntos mal-resolvidos...

I’ve found a reason to show
A side of me you didn’t know
A reason for all that I do
And the reason is you

N.A.: The reason – Hoobastank