sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
(¯`·._.· [Memórias de Samuel Berbenott - Olimpíadas] ·._.·´¯)
A palestra para os voluntários havia terminado há poucos minutos. Me afastei dos meus amigos para ir até a tenda de canoagem pegar meu crachá e alguns outros voluntários já estavam por ali.
‘Por favor, essa fila é para a de canoagem?’ perguntei para uma mulher que estava logo na minha frente da fila, e ela se virou. Era morena, com destacáveis olhos verdes e curvas. Linda. E muito, muito familiar. Nos encaramos uns segundos, incrédulos, e rimos. ‘Letícia???’
‘Samuel! O que você está fazendo aqui?’ ela perguntou tão surpresa quanto eu estava.
‘Sou voluntário, na canoagem. Não vá me dizer que você também?!’
‘Exatamente! Entrei de férias do time de quadribol, antes de começarmos os preparatórios para a Copa Mundial, e achei que seria legal ser voluntária aqui... E você, o que anda fazendo?’
Pegamos nossos crachás e saímos andando juntos até os jardins congelados do castelo. Contei a ela que tinha me formado, estava trabalhando no Departamento de Esportes Mágicos do Ministério da Magia Francês e jogando no Caerphilly Catapults. Ela me contou dos treinos no Time Nacional do México e da vitória no Torneio Americano de Quadribol.
‘Tem uma coisa que quero te devolver...’ disse puxando de dentro da camisa um cordão com uma aliança dourada.
‘Não quero que me devolva isso, Samuel. Apesar de nosso casamento não ter sido de verdade, quero que fique com essa aliança’ ela esticou o cordão de volta para mim, sorrindo. ‘Eram dos meus avôs, e eu acho que escolhi uma pessoa bastante legal para dividir comigo. Somos bons amigos, e essas alianças são o símbolo disso, certo?’
‘Certo. Vou continuar carregando ela comigo então.’ Sorri e recoloquei o cordão no pescoço. Passamos mais um par de horas conversando sobre todo o tempo em que não nos víamos e ao final do dia eu realmente pensei que as Olimpíadas seriam mais surpreendentes do que eu esperava...
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‘Adivinha quem é?’ disse baixo no ouvido de Anne enquanto minhas mãos tapavam seus olhos. Ela riu.
‘O mesmo Samuel de sempre, não é?’ ela tirou minhas mãos dos olhos dela e se virou para me ver. ‘Estava com saudades...’
‘Eu também’ sorri enquanto a envolvia em um abraço apertado e a beijava.
As carruagens de Beauxbatons haviam aterrissado a poucos minutos do lado de fora do frio castelo de Durmstrang, e uma massa de atletas franceses já se misturavam com várias outras nacionalidades, ignorando os gritos da professora de etiqueta, Defossez, para que formassem uma fila única e organizada e se preparassem para a abertura.
‘Hem hem’ um rouco bem ao meu lado fez com que me desgrudasse de Anne um minuto e virasse para olhar a garota alta que nos encarava com um sorrisinho cínico e as mãos na cintura: Isabel. ‘Não queria interromper, mas estava me perguntando quando o Sr. Berbenott pretendia se soltar dos amassos públicos em vossa namorada para dar um abraço na velha amiga?!’
Olhei de Isa para Anne e rimos nos afastando um pouco.
‘A Isa você pode abraçar, ok? Só a Isa.’ Anne disse sorrindo e piscando para Isa, que retribuiu a piscadela antes de se jogar em cima de mim. A rodei no ar uns segundos.
‘Malandro! Fica famoso e nem dá as caras para visitar mais os amigos, é?’ Isa perguntou em um tom falsamente ofendido enquanto me beliscava na costela. Saltei para longe das mãos dela.
‘Ouch. Isso dói, Isa. Não tive tempo para ir a Beauxbatons ainda, mas agora estamos todos aqui!’
‘Estão todos aqui, sim senhor, Samuel Berbenott. Mas eu sinceramente adoraria que o senhor e as senhoritas McCallister e Renault deixassem de conversinhas paralelas agora.’ Uma voz seca e rígida disse logo atrás de mim. Professora Defossez me encarava parecendo nervosa.
‘Como vai professora Françoise? Elegante como sempre, estou vendo...’ sorri amarelo e puxei sua mão dando um beijo. Ela se livrou rapidamente e olhou ao redor parecendo consternada.
‘Já vi que o senhor não prestava a mínima atenção em minhas aulas. Lamentável.’ ela disse e Anne abafou uma risada. Isa, porém, encarnara o espírito de aluna exemplar das aulas de etiqueta e havia endireitado a postura, olhando Defossez com respeito e cordialidade. ‘Agora, se me faz o favor de voltar para perto dos outros voluntários?! Posso saber o que ainda estão fazendo paradas aqui, Renault e McCallister?’
Anne e Isa me acenaram e se afastaram para a volumosa onda de alunos com uniformes azul-céu, impecavelmente vestidos, que agora se preparavam para entrarem em Durmstrang. Isa tomou a dianteira da fila, ao passo em que Defossez a entregava a bandeira com o grande brasão de Beauxbatons na mão. Senti um aperto no peito de me lembrar dos melhores anos da minha vida, que haviam sido deixados para trás.
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Anne, Bel, Isa e Brenda estavam no podium recebendo a medalha de ouro na Canoagem, prova de Caiaque K4. Eu e Letícia as observávamos um pouco distantes, enquanto David as entregava as medalhas e arranjos de flores. Assim que o hino da França acabou, Anne desceu correndo animada e saltou em cima de mim me dando um beijo. A torcida de Beauxbatons também já tinha descido para comemorar mais uma medalha.
‘Ganhamos!’ ela disse se soltando e me mostrando a medalha.
‘Eu vi. Parabéns!’ ri. ‘Anne, quero te apresentar a Letícia’
Tanto Anne, quanto Letícia, me olharam surpresas. Mas eu estava determinado a apresentar as duas.
‘Letícia é uma amiga minha, antiga. E Anne é a minha namorada.’
‘Futura esposa, Samuel. Não ouse querer fugir do compromisso...’ Anne falou brincalhona e Letícia e eu trocamos um olhar significativo. As duas se deram as mãos em cumprimento.
‘Nem pensei nisso’ disse abraçando Anne.
‘Foi um prazer, Anne.’ Letícia sorriu para nós dois. ‘Bom, agora tenho que ir preparar a próxima prova. Nos vemos depois, Samuca.’
Ela se afastou em direção ao lago e a acompanhei com o olhar, até sumir atrás de vários caiaques.
‘Não sei por que, mas estou com a sensação de que tem alguma coisa sobre essa Letícia que você quer me contar, Samuel...’ Anne me olhou desconfiada e abaixei os ombros.
Não adiantaria adiar. Antes que pudesse preparar um discurso indiferente quanto ao caso, relatei a Anne minha viagem ao México em detalhes. A noite de tequila, o casamento na praia, como eu e Letícia havíamos amanhecido na mesma cama e sem nos lembrarmos de nada, e como tínhamos nos divorciado. No final das contas, ela saiu irritada pedindo para que eu não a seguisse pois precisava de um tempo para absorver a idéia de que eu era, na verdade, um legalmente separado.
°°°°°
‘Será que já podemos conversar?’ perguntei alto para Anne, que estava sentada sozinha ao lado da janela, enquanto a festa de despedida das Olimpíadas explodia ao nosso redor, e olhava os jardins escuros de Hogwarts. Ela sacudiu a cabeça sem dizer nada e me sentei ao lado dela. Como não havia mais nada a dizer, esperei que ela tomasse o tempo necessário para que começasse a gritar, brigar e socar a raiva que supostamente estaria sentindo de mim, mas quando ela falou, foi em seu tom de voz natural e calmo.
‘Por que não me contou antes que já tinha sido casado?’
‘Por que isso não fez a mínima diferença na minha vida’ respondi displicente e ela desviou os olhos dos jardins para me encarar.
‘Então você trata um casamento assim? Com toda essa naturalidade?’
‘Não foi um casamento de verdade!’
‘É claro que foi! O padre, as alianças, o livro do cartório! Vocês acordaram no mesmo quarto, na mesma cama! É claro que foi um casamento de verdade!’
‘Na prática! Mas não representou nada para nenhum de nós dois!’ disse na defensiva. Ela se voltou para a janela novamente. ‘Olha para mim...’ disse sério e ela me olhou. ‘Eu amo você, ok? Letícia é uma boa amiga, e SÓ isso. Já faz muito tempo que tudo aconteceu, eu nem me lembrava mais disso. Eu fui sincero em tudo o que te disse até hoje! Será que podemos simplesmente encarar tudo isso como passado?’
Ela ficou me olhando vacilante um minuto e então se aproximou e me abraçou com força, pousando a cabeça em meu ombro.
‘Podemos. Mas não quero me decepcionar com você, Samuel. Já não basta meus pais mimarem meu irmão idiota! Não você!’
‘Nunca faria nada para te machucar. Tirando, talvez, a goles que acertei na sua cabeça...’ ela riu e me beijou lentamente.
‘Brenda me disse de uns túneis mais escuros, depois que acabam os dormitórios...’ disse baixo no meu ouvido.
‘É? Hum... Quer que eu te leve lá para conhecer?’ Perguntei brincalhão, mas ela sorria de uma maneira diferente. Determinada.
‘Adoraria’
Saí puxando ela entre os estudantes e voluntários que aproveitavam sua última noite de diversão para dançarem e conversarem, e em poucos minutos alcançamos os tais túneis, parando vez ou outra para trocarmos beijos e nos livrarmos de uma peça de roupa ou assuntos mal-resolvidos...
I’ve found a reason to show
A side of me you didn’t know
A reason for all that I do
And the reason is you
N.A.: The reason – Hoobastank